27.3.09

O drama da água em escala global

Artigo do jornalista Washington Novaes publicado em 27 de março no jornal O Estado de São Paulo. Vale a pena refletir, sempre, sobre os números assustadores que se referem à questão da água.

"O Fórum Mundial da Água, encerrado no último fim de semana em Istambul, com a presença de 28 mil delegados de 182 países, trouxe à tona informações dramáticas sobre esse setor no mundo, bem como recomendações para a Convenção do Clima, reuniões do G-8, governos e outras instâncias de decisão.
A começar pelo fato de mais de 1 bilhão de pessoas já não terem acesso a água de boa qualidade e 2,5 bilhões não disporem de redes de coleta de esgotos. Como a população mundial continuacrescendo à razão de 80 milhões de pessoas por ano, são mais 64 bilhões de metros cúbicos anuais no consumo global de água, diz o relatório Water in a Changing World, de 26 agências da ONU.

Além disso, acentua o documento, as pressões continuam crescendo: as hidrelétricas, que respondem por perto de 20% da energia no mundo, são cada vez mais solicitadas para reduzir as fontes poluidoras derivadas do carvão, do gás e do petróleo – e isso significa mais barragens quando, segundo a Comissão Mundial de Barragens, já existem 45 mil no mundo (só as com pelo menos 15 metros de altura), mais de 80% do fluxo dos rios é
interrompido e vários dos grandes rios não chegam mais aos oceanos (Colorado, Amarelo e outros). A agropecuária, que usa cerca de 70% da água, aumenta seu consumo com a demanda de alimentos (1 quilo de trigo exige de 400 litros a 1 mil litros para ser produzido, diz o documento; 1 quilo de carne, entre 1 mil e 20 mil litros; 1 litro de combustível “verde”, cerca de 2,5 mil litros).
Não é só. A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) lembra que, se um ser humano precisa de apenas 3 litros diários para beber, precisará de cerca de 3mil litros por dia para produzir sua alimentação – o que pode elevar o consumo total, em casa e fora dela, para 4 mil litros por dia por pessoa.

Tem mais. Doenças veiculadas pela água são a segunda causa de morte de crianças com menos de 5 anos: 4,2 mil por dia. Dessas crianças, 125 milhões vivem em casas sem água potável de boa qualidade; 23% da população mundial defeca ao ar livre, porque não dispõe de instalações sanitárias nem de redes de esgoto – o que leva a ONU a concluir que, se o saneamento fosse
universalizado, seriam reduzidas em 32% as doenças diarreicas, que matam, junto com outras veiculadas pela água, 1,7 milhão de pessoas por ano (no Brasil, perto de 80% das internações pediátricas e das consultas na rede pública se devem a essas doenças).

Reduzir esses dramas e caminhar em direção aos Objetivos do Milênio exigirá enfrentar muitos condicionantes: o aumento da população; as regras para
compartilhamento dos aquíferos pelos vários países; impedir que mudanças do clima façam ainda mais vítimas entre os pobres e continuem a derreter os
gelos das montanhas, que abastecem centenas de milhões de pessoas; a crise econômica global, que restringe recursos.
Também exigirá novas tecnologias, mudanças no padrão de consumo e no mercado de alimentos e mais planejamento, controle da poluição, regras para
expansão urbana desordenada e redução do desmatamento.
A situação brasileira, nesse quadro, poderia ser até privilegiada, já que dispomos de 12% do fluxo superficial de água no mundo, além de grandes depósitos subterrâneos. Mas além da distribuição geográfica da água ser muito desigual (72% na Amazônia, 6% no Sudeste), diz a Agência Nacional de Águas, há anos que todas as nossas bacias hidrográficas, da Bahia ao Sul
do País, estão em“situação crítica” por causa de poluição, desperdício ou conflitos pelo uso.
E a situação do abastecimento de água e saneamento continua dramática. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), são 34,5 milhões de pessoas (28,6% da população urbana) que não dispõem de redes de coleta de esgotos, mas se a elas se acrescentarem os que contam apenas com fossas, chega-se perto de 50%. Quase 10% não têm suas casas ligadas
a redes de abastecimento de água. Mas a “universalização” das redes de esgotos e de água só acontecerá em 20 anos.
Apesar disso, estamos devolvendo R$ 202 milhões ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) porque não fomos capazes de fazer licitações e cumprir outras exigências. E tudo isso sem entrar no terreno do tratamento de esgotos, já que apenas pouco mais de 20% dos esgotos coletados recebem algum tratamento (em geral, apenas primário, que devolve 50% da carga orgânica aos rios, onde são a causa principal de poluição). Ou no terreno da perda de água, que está acima de 40% nas maiores cidades brasileiras.

Pode haver encaminhamentos, claro. Os recursos para o saneamento têm de aumentar. É possível ampliar as redes de coleta com menos gastos se se adotar em maior escala o sistema de ramais condominiais (que já atendem a 15 milhões de pessoas, inclusive grande parte de Brasília). Para reduzir as perdas de água, é indispensável criar nos bancos públicos sistemas de financiamento para recuperação e manutenção das redes (hoje só se financiam novas barragens, adutoras e estações de tratamento, muitas vezes
mais caras). Urge implantar os comitês de gestão de bacias em todo o País (só dois funcionam hoje) e a exigência de pagamento pelo uso da água (com os recursos daí advindos aplicados na própria bacia).

Deixar, o Tesouro Nacional, de contingenciar recursos dos comitês. Disciplinar o uso de águas por pivôs centrais, que em grande parte desperdiçam metade do que retiram dos mananciais. Reciclagem e reúso da água têm de se tornar rotina. Nas cidades, é fundamental exigir a retenção de água de chuva em cada imóvel e usá-la inclusive nos sistemas sanitários (ajudando também a reduzir as enchentes). Ampliar para todo o País o sistema adotado em São Paulo, de individualizar as contas nas habitações coletivas, para estimular a economia (é preciso ter também faixas mais diferenciadas para o consumo, pelo mesmo motivo).

Enfim, são muitos caminhos. Não se pode perder mais tempo diante da gravidade do quadro."

Washington Novaes é jornalista. E-mail: wlrnovaes@uol.com.br

26.3.09

Abertura do Circuito Tela Verde


O Ministério do Meio Ambiente, por meio do Departamento de Educação Ambiental, da Secretaria de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental – (DEA/SAIC/MMA) e o Ministério da Cultura, por meio da Secretaria do audiovisual (SAV/MinC), realizarão, às 10 horas do dia 17 de abril, no Centro de Visitantes do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), a Abertura do Circuito Tela Verde e o Lançamento do Edital de Curtas de Animação.

O Circuito Tela Verde é uma mostra nacional de produções audiovisuais sobre experiências de projetos de educação ambiental, para exibição em estruturas educadoras como Salas Verdes, Pontos de Cultura, Coletivos Educadores, cineclubes etc. Utilizando metodologias de educomunicação, os filmes oferecem um mosaico de opiniões, visões de mundo e modos de vida dos membros das comunidades locais sobre o meio ambiente, os problemas e as responsabilidades ambientais. Trazem uma importante contribuição para compreender como as comunidades tomam parte nos processos da gestão ambiental pública.

Cada estrutura educadora cadastrada no Circuito receberá um kit contendo: DVDs, material para divulgação e um guia passo a passo para organização e avaliação da mostra. Após exibição, o kit deverá compor o acervo do espaço exibidor, ou de outro espaço público indicado pela instituição responsável pela exibição. Durante o período que antecede a mostra, bem como o de sua exibição, os espaços contarão com o blog do Circuito Tela Verde como apoio. Nele, serão disponibilizados o conteúdo do kit, informações e questionário para a avaliação da mostra e materiais que servem de base para as discussões.

Esta é uma primeira versão de um circuito de exibição de filmes ambientais que esperamos repetir por mais vezes, revelando a diversidade dos olhares sobre a questão ambiental.

O Circuito Tela Verde é uma das ações de educomunicação do DEA/MMA, em sintonia com os princípios do Programa Nacional de Educação Ambiental e em comemoração aos 10 anos da Política Nacional de Educação Ambiental (Lei n° 9.795/99).

Para maiores informações acesse:
http://circuitotelaverde.blogspot.com/

Saiu o Coleciona 5

19.3.09

Coeduca na imprensa


Coeduca multiplica a consciência ambiental
Educar para preservar a natureza move integrantes do grupo


Guilherme Gorgulho

ESPECIAL PARA A AGÊNCIA ANHANGUERA
guilherme.gorgulho@rac.com.br

A articulação dos cidadãos que lutam pela preservação da natureza e a disseminação de conceitos por meio da formação de educadores são fatores essenciais para potencializar as ações em prol do meio ambiente. Foi com essa mentalidade que membros de instituições, organizações não-governamentais (ONGs) e pessoas que militam pela causa ambiental se reuniram para criar o Coletivo Educador Ambiental de Campinas (Coeduca).

Surgido em 20 de dezembro de 2004, a partir de uma reunião em Campinas do Departamento de Educação Ambiental, do Ministério do Meio Ambiente, o grupo já formou mais de uma centena de educadores. Contemplado em um edital do Fundo Nacional do Meio Ambiente em 2005, o Coeduca recebeu uma verba de R$ 200 mil para desenvolver suas ações e contou com o apoio de outras entidades e parceiros dos setores privado e público.

“Acabamos formando 150 pessoas (cerca de 20 coordenadores e 130 educados) porque temos também uma ideia de que ninguém educa sem ser educado — não é uma ideia nossa, é uma ideia do Paulo Freire (educador que se destacou pelo trabalho com alfabetização popular) —, que educar e educar-se fazem parte do mesmo processo.

Fica difícil de dizer: ‘O pessoal da formação educou e os outros foram educados’. Todo mundo aprendeu nesse processo, e aprendeu bastante sobre educação ambiental, sobre movimentos sociais e sobre ação educativa”, afirmou Sandro Tonso, um dos coordenadores do Coeduca e professor do Centro Superior de Educação Tecnológica (Ceset), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Considerando que as realidades socioambientais não são homogêneas em todo o País, o Ministério do Meio Ambiente decidiu estimular a criação de coletivos adaptados aos contextos locais. A partir do apoio financeiro do governo federal, foram firmadas parcerias com instituições, como a Prefeitura de Campinas e a Unicamp, e ONGs, como a Grupo de Aplicação Interdisciplinar à Aprendizagem (Gaia) e o Movimento Sonha Barão.Após a definição do projeto político-pedagógico em 2006, o trabalho prático de formação dos educadores ambientais ocorreu a partir de março de 2007, com o início do curso gratuito de extensão pela Unicamp, com carga total de 504 horas.

O Coeduca teve a preocupação de não impor um programa pedagógico, valorizando a formação de grupos e não somente de indivíduos. “Dissemos para eles: ‘Não temos um curso pronto, vamos construi-lo com vocês a partir do que vocês sabem, a partir do que vocês querem saber. Nós temos os nossos saberes, mas queremos conhecer os de vocês, para que haja um processo de troca, efetivamente, de saber”, relembrou Tonso.

O município de Campinas foi dividido em 20 áreas e os 130 integrantes do curso se separaram em 20 coletivos para atuar nos bairros. No primeiro semestre de 2007, foi feito um diagnóstico das regiões e os coletivos buscaram representantes da sociedade, como associações de bairro e paróquias, para conhecer os principais problemas ambientais. Na segunda metade de 2007, a tarefa foi montar um projeto de ação socioeducativa. “Existem projetos de ação ambiental que se preocupam em limpar o meio ambiente, fazer um arrastão, plantar mudas na beira do córrego, valorizar certas praças e áreas, e existem ações de educação ambiental que se preocupam em formar educadores ambientais. O foco não é diretamente o ambiente, mas são pessoas que depois vão cuidar do meio ambiente, nós trabalhamos nessa linha.”

A terceira fase foi pôr na prática os projetos nas comunidades, com exibição de filmes, realização de debates e participação em reuniões locais para pautar as ações ambientais. Atualmente, o grupo está se articulando para fortalecer os coletivos nos bairros.Disseminação de valores é principal foco do projetoPalestras, caminhadas e minicursos são usados para ampliar conhecimentoA principal meta do Coeduca não é promover ações ambientais efetivas em áreas com problemas ou degradadas. O que o projeto se propõe a fazer é formar pessoas que possam disseminar os valores de preservação e de consciência ambiental. A concretização imediata do projeto no município aconteceu com atividades dos coletivos em suas respectivas áreas de atuação, com palestras, caminhadas e minicursos.

A multiplicação dos conceitos e das vivências adquiridas pelos educadores ao longo da vida é a base de todo o trabalho do Coeduca. Entre as ações desenvolvidas está a do coletivo Ser Semente, do Castelo e Jardim Chapadão, que coordenou entre agosto e dezembro de 2008 um trabalho pedagógico na Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx) que deverá ser retomado em 2009, com o início do ano letivo.A ação consistiu na discussão de temas relacionados ao meio ambiente e à criação de um banco de dados que pudesse ser usado na formação de novos educadores ambientais.

“Nosso trabalho teve um viés de desenvolvimento e apoio didático, com a criação de um banco de informações sobre ecologia e questões ambientais”, explicou Hugo Telles, profissional aposentado de propaganda e marketing e membro do Ser Semente.Nos quatro meses de atividades com os cadetes, 15 turmas, com cerca de 30 alunos cada, participaram das ações. “Nos encaixamos no plano de atividades deles, mas sem relacionar os temas ambientais com a doutrina militar. O banco já está sendo usado pelos alunos do curso”, disse Telles.

Em Sousas e Joaquim Egídio, a ação do coletivo Jequitibás se faz presente pelo trabalho, entre outras pessoas, dos membros da Guarda Municipal (GM) de Campinas. O coordenador da Base Regional Ambiental da GM de Sousas, Roberto Augusto, participou da formação do Coeduca e ajuda a colocar em prática os conceitos compartilhados no processo. “Nós fazemos um trabalho de orientação da população, que vai além de simplesmente coibir atos ilícitos praticados contra o meio ambiente”, explicou Augusto, que conta com o apoio de outros nove colegas da GM no Coeduca.

Coletivo reúne profissionais de várias áreas
A variedade de profissionais que compõem o Coeduca é um dos fatores que fortalece o seu trabalho. Sem exigência mínima de escolaridade para integrar o curso oferecido, alguns dos educandos não tinham sequer Ensino Fundamental completo, enquanto outros eram pós-graduados. Eram professores, líderes comunitários, técnicos de instituições públicas, universitários e empresários que discutiram no decorrer do curso de 18 meses temas como sustentabilidade, consumo e consumismo, políticas públicas, agricultura sustentável e movimentos sociais.

Em 31 de março de 2007, começaram a participar do curso 180 pessoas, sendo que 150 chegaram ao fim do processo de formação, em agosto do ano passado. Dentro do grupo, a descentralização é a principal marca no que se refere à tomada de decisões. “Um dos princípios do programa é que não existe a figura do coordenador-geral, mas sim um grupo de coordenação”, disse o professor Sandro Tonso, um dos coordenadores.

As lideranças do Coeduca se reúnem semanalmente, às terças-feiras, na Unicamp, e o encontro é aberto a novos participantes interessados em integrar o coletivo. Todos os membros do Coeduca, incluindo a coordenação e os integrantes dos coletivos, realizarão a primeira reunião deste ano no sábado. O evento servirá para dar prosseguimento à atual fase de reforçar os grupos nos bairros, enumerar os coletivos que possam ter se desarticulado, identificar novas demandas e fortalecer as parcerias que permitiram a concretização das ações.

Segundo Tonso, a expectativa agora é de promover a formação de novos educadores ambientais, reeditando os cardápios de disciplinas que foram oferecidas aos 130 membros dos grupos no período de um ano e meio de curso, provavelmente com algumas modificações.

OS NÚCLEOS
Os educadores ambientais formados pelo Coeduca se dividiram em 20 grupos de atuação com áreas de abrangência determinadas por todo o município de Campinas.

O objetivo principal dos coletivos é colocar em prática nos bairros os saberes compartilhados durante o processo de aprendizagem e disseminá-los em ações socioambientais.
1. Coletivo Brotando Sementes - Região do Jardim Flamboyant
2. Coletivo Caminhos em Comum - Região do Jardim Nova Europa
3. Coletivo Amarais Costa e Silva - Região dos Amarais e Costa e Silva
4. Coletivo União - Região da Vila União
5. Equipe 14 Bis Santos Dumont - Região da Rodovia Santos Dumont
6. Grupos Centro Origens - Centro - Escola Estadual Carlos Gomes
7. Coletivo Reviver - Aparecidinha - Região do distrito de Aparecidinha
8. Coletivo Coeso - Região de Sousas e Joaquim Egídio
9. Coletivo Ponte Preta Nosso Olhar - Bairro Ponte Preta
10. Coletivo Guarantãs - Região do Bosque dos Guarantãs
11. Coletivo Jequitibá - Região de Sousas e Joaquim Egídio
12. Coletivo Primavera - Região do Taquaral
13. Coletivo Primavera São Jerônimo - Região do Taquaral
14. Coletivo Ser Semente - Região do Jardim Chapadão e Castelo
15. Coletivo TerrAmar - Região do Jardim Miriam
16. Coletivo Terranativa - Região dos Amarais
17. Coletivo Trans-forma-Ação - Região da Vila 31 de Março
18. Coletivo Travessia - Região de Barão Geraldo
19. Coletivo Vida Nova na Vila Nova - Região da Vila Nova
20. Coletivo Yvy Tenondé - Região do Campo Grande

SERVIÇO - O contato com o Coeduca pode ser feito com o professor Sandro Tonso pelo telefone (19) 8118-1825 ou pelo endereço eletrônico sandro@ceset.unicamp.br.